Sinfonia Fúnebre  |  José Maurício Nunes Garcia

A Sinfonia Fúnebre, composta em 1790, talvez seja a mais importante obra sinfônica do século XVIII no Brasil. O título desta abertura, segundo Cleofe Person de Mattos, pode estar associado ao falecimento, neste ano, de uma tia, irmã da mãe do compositor, “dedicada auxiliar nos esforços pela educação do futuro padre-mestre”. Logo no início, após um breve motivo introdutório em Mi bemol maior, surge um fio condutor nos segundos violinos, depois exposto pelas violas, composto apenas por duas notas insistentemente repetidas (Mi bemol e Ré), sobre o qual vemos expandida uma frase cromática de inspiração única. A peça chama a atenção também pelo tratamento formal original para época, desenvolvido com grande liberdade, numa espécie de forma sonata dilacerada A - A’, onde a seção do desenvolvimento é substituída por um curto e apaixonante trecho dos primeiros violinos, explorando os extremos de sua tessitura. Após uma sequencia de acordes supostamente conclusivos em Mi bemol maior, surge surpreendente o acorde de Dó menor, rompendo o silêncio expressivo para mais uma cadência final. A personalidade do jovem compositor se caracteriza, portanto, por suas longas frases cromáticas, com acordes ousados de forte expressão. É sempre bom lembrarmos, para termos uma ideia da inventividade do padre José Maurício Nunes Garcia, que, naquele tempo, Beethoven ainda não despontava como compositor e Schubert nem sequer havia nascido.
As fontes primárias – partes avulsas, pois a partitura se perdeu - que serviram de base para esta nossa esta edição crítica estão arquivadas na Biblioteca Alberto Nepomuceno da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (autógrafo das partes de cordas menos segunda viola, materiais estes que remontam ao ano de 1816, e as demais partes de sopros são cópias tardias) e da Lira Sanjoanense de São João d’El Rey (conjunto completo de cordas, incluindo-se segunda viola, e sopros, todas cópias manuscritas da época).
Texto de Rubens Russomanno Ricciardi (São Paulo, 1997).

Título: "Sinfonia Fúnebre"
Cidade e data da composição: Rio de Janeiro, 1790
Cidade e ano da edição da partitura: São Paulo, OSESP, 1997
Ano de sua publicação neste Serviço de Edição e Difusão de Partituras do NAP-CIPEM / FFCLRP-USP: 2015
Duração de performance: 5’
Edição crítica e revisão musicológica: Rubens Russomanno Ricciardi